Vale dispensa água em novos projetos na mina Carajás

Sinal da "mineração do futuro" apontada pelo presidente da Vale, Roger Agnelli, durante seminário sobre commodities organizado em março pelo Brasil Econômico, a mineradora está revendo novos projetos previstos para sua mina de Carajás.

A mudança ocorre em função da perspectiva apresentada por Agnelli sobre a intenção da Vale de fazer o processamento mineral a seco - com a eliminação do uso da água, utilizando a própria umidade do minério para peneirar o insumo, com a consequente redução dos polêmicos dejetos (sobras minerais) em barragens. "Projetos que já estavam com a rota tradicional de beneficiamento definida (com uso de água para a separação do minério fino do grosso, o chamado peneiramento) voltaram para a prancheta. Será introduzida a técnica de peneiramento à umidade natural do minério", diz o engenheiro de ferrosos José Anselmo Campos.

O processamento a seco marca o sucesso de investida iniciada em 2008 pela empresa, envolvendo a limpeza de grãos de minério em sua maior mina - Carajás responde pela produção diária de 300 mil toneladas do insumo siderúrgico e cerca de 36% de todo minério vendido anualmente pela mineradora. Hoje, entre 50% e 80% do montante diário é processado sem o uso de água. Inovação de peso para o setor, comemorada como uma revolução de engenharia. "A literatura especializada dizia que o peneiramento de minério sem água seria critico ou inviável", diz Campos.

Segundo o engenheiro, a inovação foi conseguida graças ao desenvolvimento de uma nova tecnologia de procedimento.

Ao invés de introduzir água para facilitar a separação de minério, o novo processo permite utilizar a umidade natural do mineral bruto. A separação do insumo fino do grosso acontece a partir da aceleração da velocidade de peneiramento.

Novidade que exigiu estudo apurado para minimizar a pressão exercida pela força da gravidade. "O projeto quebrou uma série de paradigmas da indústria mineral. Os fornecedores tiveram que mudar a forma de pensar. Foi preciso fazer um reforço estrutural nas máquinas com um sistema de rolamentos para aumentar a durabilidade do equipamento, que trabalha em condições muito severas de aceleração, afirma Campos.


Simplificando a eficiência

O desafio foi experimentar novos tipos de materiais para fabricar peneiras antes feitas somente de metal. O material agora é produzido de poliuretano e borracha. As peças também receberam furos diferenciados para granular o minério sinter feed, cuja proporção varia entre 0,12 e 0,15 milímetros (mm) - granulação superior ao ultrafino pellet feed, com dimensão inferior a 0,12 mm. "Tivemos que alterar alguns parâmetros operacionais das máquinas. Também desenvolvemos acessórios que não existiam no mercado, como barras cilíndricas e retangulares para auxiliar o peneiramento."

A alteração rendeu índice de eficiência global de equipamentos 4,8% superior ao processamento à base de água, conforme parâmetros definidos pela Vale. Como resultado, cada uma das oitos linhas de peneiramento a seco de Carajás consegue produzir diariamente mil toneladas a mais do que as nove linhas à água.

Campos aponta como positivos os ganhos ambientais de Carajás. "Os novos projetos não terão mais barragem de rejeito. Isso é fantástico, porque recupera o minério (antes alocado nas barragens, que agora pode ser processado com granulação maior), reduz o consumo de energia e de água."

OTIMIZAÇÃO PRODUTIVA

Redução de equipamentos derruba custo operacional

O ganho de eficiência em Carajás é resultado da otimização da área de produção, com a diminuição do número de equipamentos e, consequentemente, o aumento do espaço para armazenar o minério de ferro processado na própria linha de beneficiamento. O procedimento a seco conta com apenas uma peneira ciassificadora, responsável pela limpeza do minério, enquanto a linha à água precisa de bombas e tubulações para circular o recurso hídrico, classificador espiral, peneira ciassificadora e desaguadora - além de baterias de alimentação de energia. A melhoria na disposição das máquinas resultou na redução de 38% nos custos da manutenção semestral. "A simplificação do processo permite utilizar os equipamentos por mais tempo, o que aumenta a produção", diz o engenheiro de terrosos da Vale, José Anselmo Campos.

GANHOS DA VALE COM O PENEIRAMENTO A SECO

1 - Torneira fechada diminui conta de água

Com 8 linhas de peneiramento a seco em Carajás, a Vale está eliminando o uso anual de 19,7 milhões de metros cúbicos de água. O fechamento da torneira na mineradora corresponde ao consumo médio de uma cidade com cerca de 430 mil habitantes.

2- Menos equipamentos píugados na tomada

A redução no consumo de energia representa uma economia anual de 18 mil megawatts. Redução proporcionada pela retirada de bombas e outros equipamentos agora desnecessários para peneirar parte do minério de ferro extraído de Carajás.

3- Custo menor, produção maior

Com menos máquinas nas linhas em seu maior polo de extração de de minério, a Vale consegue ganho operacional médio na sua capacidade produtiva de até 8 mil toneladas por dia. Rendimento 4,8% superior ao da linha de peneiramento a seco.

 

http://saladeimprensa.vale.com/pt/versao_impressao/prt_detail.asp?tipo=1&id=19727

 

Fonte: Brasil Econômico